Se perguntarem por mim digam-lhes que estou no mar lá ao longe na minha jangada, em recolhimento no meu templo de eleição, onde o Ar, o Espaço Aberto e a Água se harmonizam em bênçãos celestiais e terrestres
e por favor não me chamem!...O Ar e o Céu que me fascinam na musicalidade que me dão como instrumentos de sopro em sibilares e silvos das flautas, das harmónicas e saxofones que chegam a ferir-me pela tamanha doçura envolvente e me levam nos seus tons estendidos de voos mágicos
e os frescos e as cores dançantes de braço dado premeiam-me com namoros de encanto que nunca me cansam
O Espaço Aberto que tanto me faz lembrar violinos desfiando sons ora frenéticos ora melodiosos como o esvoaçar das aves de asas bem abertas rasgando o vento em correntes deslizantes e que o meu olhar sorri e muito aplaude
transportam-me amiúde para as infinitudes de passagens de outros espaços sem barreiras
O Mar e sua Água de percussões bem timbradas que tanto me embala nas fortes e sonoras batidas de tambores quando se abraça às rochas e se estende pelo areal mostrando o seu belo corpo mesclado de azuis e verdes e roxos e sombras naquele ondular de feitiço único
ou nos rugidos de tubas em fúrias quando o humor está animado e no seu gozo próprio pensa em assustar, delicia-me com os seus risos de vozeirão deslumbrado
E neste estado quase hipnótico sinto-me cheio e indistinto também
tão leve e quase indecifrável como o monte de átomos que se juntam em brincadeiras de jogos e teimam em dar-me esta forma ao meu corpo muito mais diluída que sólida no rochedo onde me sento
numa espécie de simbiose onde os elementos da criação se unem e fundem e dão forma aos sentidos da vida!Sabes vida,É pegando nestes instantes,Bocados de ti e de mim,E na graça que me dão em senti-los,Que cada vez mais cresço na minha pequenez
Carlos Reis(Imagem: Web)