A sensação que tenho alma (quando retorno de breves ausências) e olho o Rio que me viu nascer na mui sempre majestade do seu andar, é desfrutar da alegria da seiva que alimenta as crianças na redescoberta do brinquedo.
É o lume do sangue que se empolga em mim no deslizar dos sentires tocados, nas cores que se desfazem e recriam-se nos jogos ondulados até ao mar… É pegar nos pincéis da mente e, na tela do horizonte, reinventar novas visões.
Alargar as margens pelas encostas do céu já na palidez da quase noite que desboto-a, e refazer os braços dos brilhos do sol, como espadas de fogo desbravando caminhos que nos tentam flamejantes a caminhar para lá dos mares… Montar jangadas e barcos de velas altas e navegar em novas epopeias do pensar. Nem o desconhecido, nem os fantasmas crucificados pelos tempos me podem parar.
Ferve-me o sangue e nos riscos escritos solto o espírito aventureiro e sem remissões lá vou eu no meu livre passear até onde a infinidade do imaginário me deixar pintar.
Soltas as amarras no cais onde o cheiro da água me inebria e os odores do pescado nos suores dos pescadores ainda encadeados, lanço grito de socorro às estrelas que me hão-de guiar cego sem planos , até onde ressoar os ecos do bramido do consolo da euforia.
Olho à minha volta e na azáfama de brilhos no casario que parece gritar de tanto aperto, vislumbro silhueta feminina de olhos de mel que me envolve e paralisia.
E o diabo de um manto de lembranças cobre-me de imagens que não queria… recordo… vi-te fugaz no outro lado da rua e lembrei-me da tua sombra naquela madrugada escaldante de palpitações como nunca sentira. Estonteantes em mim que de louco me pensara. Divinas no palco do teu corpo que intensamente me enrolara submisso, em preces de nós, nas volúpias que provara.
Hoje, se fosse hoje, apontar-te-ia directamente a minha arma dos afectos ao peito, e exigir-te-ia rendição incondicional com o meu olhar pedinte de paixão e jamais, juro… jamais bela criatura da terra me fugirias!!!
Carlos Reis