Sexta-feira, 31 de Dezembro de 2004
Poesia
POEMA DE NATAL
Para isso fomos feitos:
Para lembrar e ser lembrados,
Para chorar e fazer chorar,
Para enterrar os nossos mortos -
Por isso temos braços longos para os adeuses,
Mãos para colher o que foi dado,
Dedos para cavar a terra.
Assim será a nossa vida;
Uma tarde sempre a esquecer,
Uma estrela a se apagar na treva,
Um caminho entre dois túmulos -
Por isso precisamos velar,
Falar baixo, pisar leve, ver
A noite dormir em silêncio.
Não há muito que dizer:
Uma canção sobre um berço,
Um verso, talvez, de amor,
Uma prece por quem se vai -
Mas que essa hora não esqueça
E que por ela os nossos corações
Se deixem, graves e simples.
Pois para isso fomos feitos:
Para a esperança no milagre,
Para a participação da poesia,
Para ver a face da morte -
De repente, nunca mais esperaremos...
Hoje a noite é jovem; da morte apenas
Nascemos, imensamente.
Vinícius de Moraes
Terça-feira, 28 de Dezembro de 2004
Poesia
O azul, o azul rouco, o azul
sem cor, luz gémea da sede.
Acerca deste rigor
tenho uma palavra a dizer,
uma sílaba a salvar
desta aridez, asa
ferida, o ohar arrastado
pela pedra
calcinada, húmido
ainda de ter pousado
à sombra de um nome,
o teu:
amor do mundo, amor de nada.
Eugénio de Andrade
Sábado, 25 de Dezembro de 2004
Cantos!!!
Não preciso de te ver, meu beijo to dou,
miha mãe!
Foram tantas as vezes que meus lábios tocou tua pele,
e que me encheu de amor,
que é fácil para mim beijar-te ainda que não estejas presente!
Ouço o teu riso, e o calor dos teus braços em mim,
que não preciso lembrá-los mais... teus carinhos continuam bem
vivos em mim!
És e serás sempre a minha Santa,
O meu rochedo, a minha segurança...
Serás sempre a certeza do meu Sol diáriio,
As mãos suaves que afagam minha alma...
Sei que me olhas, que me prezas, que me aconselhas,
sei que estás comigo, e...
assim ainda não te desprendo do meu fado,
e sê minha mãe , a calçada da vida,
os caminhos que inventaste para mim!...
Se fizeres o favor de me ensinar mais ainda,
Minha cabeça, meu corpo te obedecerá,
pelas Luas até em ti me juntar!...
Carlos Reis
Quarta-feira, 22 de Dezembro de 2004
Mar
Às tardes e às noites quando te olho em cima do paredão,
respiro-te bem fundo, gosto do teu cheiro
mar,
Fazes-me caretas e ruges como leão,
mar não me metes medo, gosto de ti assim.
E gosto da tua fúria embatendo nas rochas abraçando-as,
salpicando meu rosto de água com teu mau feitio,
E eu gozo com isto, não me intimidas
mar.
Adoro ver teu corpo dançarino e vaidoso,
ziguezaguiando, desde lá de longe... ondulado,
qual manto de amante dourado,
que ameaça pegar-me... mas matreiro eu,
só te deixo, aos meus olhos... deliciar-me com teu pranto!
Gosto do teu ar de temor, rebelde,
quando te levantas ameaçador.
Parece tudo engolires sem desdém... arrasador,
mas é assim que te gosto, descontrolado, sem pudor!...
Enfrento-te sempre com sorrisos,
salpicados de água do teu mau feitio,
ficas bravo por não te temer,
e de gostar cheirar o teu cheiro,
mar...
Carlos Reis
Terça-feira, 21 de Dezembro de 2004
Boas Festas
Antes que me esqueça quero desejar a toda a gente boa que faz o favor de ser minha amiga e meus amigos, e aos outros que por aqui apareceram BOAS FESTAS DE NATAL E ANO NOVO EXCELENTE!!!
Lembrem-se do olhar da paixão,
de uma ou de outra forma já todos nós estivemos enredados no seu manto.
Aquele OLHO imenso de brilhos e sensações sem fim,
que desencadeia fogos e tempestades,
no mais íntimo do nosso ser!
Nem para todos o fulgor desta altura é igual,
e ainda bem,
que grande chatice seria, todos nós,
vivermos ao mesmo nível e ritmo sensorial.
Peguem nas trouxas de más memórias,
e enviem-nas para o lixo.
Sorriam o mais possível no Novo Ano,
mesmo quando não seja fácil,
há que tentar... sabe bem... é bestial!
Boas Festas para todos vós!!!
Carlos Reis
Sábado, 18 de Dezembro de 2004
Lua
Não me escrevas mais cartas de amor,
para quando nos encontrarmos,
dissimulares indiferença.
Pensas que é com estes joguinhos
que me prendes mais a ti?...
Enganaste minha querida Lua,
Enganando-me.
Sou-te fiel sempre que te vejo,
só tenho olhos para ti,
nunca perco teu sorriso de vista,
mesmo quando brincas comigo,
escondendo-te por detrás das nuvens.
Fico horas à tua espera
e quando não apareces... desespero!
Angustia-me pensar que fazes de propósito,
eu sei que não... mas é asim que penso.
Um dia mais sem tua face luminosa,
para meus olhos beberem a candura dos teus passos,
a graça das tuas sombras...
é ficar prostrado no muro frio em que te namoro,
no mesmo que há muito tempo,
juramos a nossa paixão!...
Amanhã não demores muito Lua,
sabes como fico, quando não posso beijar tua face!
Carlos Reis
Sábado, 11 de Dezembro de 2004
Poesia
Ó vagas de cabelo esparsas longamente,
Que sois o vasto espelho onde eu me vou mirar,
E tendes o cristal dum lago refulgente
E a rude escuridão dum largo e negro mar;
Cabelos torrenciais daquela que me enleva,
Deixai-me mergulhar as mãos e os braços nus
No báratro febril da vossa grande treva,
Que tem cintilações e meigos céus de luz.
Deixai-me navegar, morosamente, a remos,
Quando ele estiver brando e livre de tufões,
E, ao plácido luar, ó vagas, marulhemos
E enchamos de harmonia as amplas solidões.
E ó mágica mulher, ó minha Inigualável,
Que tens o imenso bem de ter cabelos tais,
E os pisas desdenhosa, altiva, imperturbável,
Entre o rumor banal dos hinos triunfais.
Cesário Verde