Domingo, 28 de Agosto de 2005
Doces Efeitos
Namorava eu a pintura do mar e céu à minha frente,sob um sol escaldante, avermelhado, dourado,já não sei!...Numa espécie de assento hipnótico do momento,liberta a minha mente viajava pelos fios do sol a contento,gozando o feitiço entre as frestas dos olhos torturados,e vislumbrei!...Dois pontos brilhantes, flamejantes, pestanejando,No outro lado do paredão... intensos e transparentes...aturdido abri os olhos a custo para a silhueta feminina,de azul-marinho, esverdeada, que me sorria acenando,sorriso de papoila-menina...Levado pelo impulso cego para ela caminhei,indo na sua direcção ela se afastava e perdia-lhe os contornos,fugia-me e isso entristecia-me, queria tocá-la, cheirá-la...pela minha ousadia que contas lhe darei?Arrebatado por vontade louca de a abraçar, continuei...E na ponta do paredão, pude vê-la, ao longe,a silhueta nuvem feminina de azul-marinho... esverdeada!...Carlos Reis
Sábado, 20 de Agosto de 2005
Borboleta
Gosto do teu andar ondulante e vaidoso,mariposa;o bater das tuas asas à frente dos meus olhos,refresca-me as ideias, a memória... e lembro-me...De caminhos por enseadas amarelas, amarelas doiradas,de mochila nas costas atrás de aventuras procuradas,de encostas íngremes de um verde tão verde que azuis me parecia,do som das ondas enfurecidas em guerra com rochas inocentes...Lembro-me do suave molhar de pés em lagoas de seixos, de águas translúcidas e peixes pequenos brincando,cócegas me faziam, deleitando-me em sorrisos de gozo desleixado...Lembro-me das boleias de carros, de gente desconhecida,que em histórias de ocasião me deslumbrava,dos olhares virgens das terras que pernoitava,das ruas e vielas e mulheres, levado por bebedeiras desemfreadas,dos amores e paixões repentinas... ora aqui, ora acolá...dos rios, dos montes, dos mares, dos cheiros que desconhecia...Lembro-me que tudo isto louvava... que ainda hoje louvo borboleta!...Carlos Reis
Terça-feira, 9 de Agosto de 2005
Despertar Musical
Sei de uma voz que me canta melodias campestresAo amanhecer,Sons de folhas ritmadas pelo vento, brincando...Sons de asas de pássaros estonteantes,esvoaçando...Sons de águas límpidas em margens, serpenteando...Sons dos sons de meus passos pelas terras, deambulando...Sei de nuvens claras de verdes, azuis, me observando,que me estendem mãos transparentes, me acenando,que pousam e envolvem meu rosto alegremente estafado.Sei de um rosto de menina esculpido na pedra,onde me sento assobiando canções que desconheço,contemplando com o corpo sensações etéreas que abraço,as folhas, a música dos pássaros, o embalo das águas,a sublime orquesta que me toca e arrepia a pele...E isto é tanto e não sei se mereço!...Carlos Reis