Letras Pinceladas

Anda, vem daí, dá-me a mão e vamos subir ao rochedo,Cheirar o mar e tocar no brilho das estrelas.Sabes, é aqui que abro minhas asas de anfitrião do meu ser,Abro o peito e deixo sair o veneno que me consome,Solto-o ao vento ou atiro-o ao mar, pois ele não presta,Rasgo-o antes que corrompa a alma linda que me resta.São momentos estes de tempestade, Com que luto ferozmente para libertar minha ansiedade...Depois leve e fresco saúdo os céus com lágrimas de felicidade,Ouso sentir-me tão alto que faço das estrelas meu olhar,Onde tudo o que me rodeia arrebato, e peso, e entendo!...Solicitude de agrado é o que meus ouvidos captam,Vindos do vento, da música do mar, dos silêncios que me cantam:Melodias das águas, de riachos serenos, risos de encanto,Das pessoas, dos pensamentos que enlevam meu ego!...Anda, dá-me tua mão ego,E ouçámos nosso andar pela areia molhada!Carlos Reis

Chove copiosamente e lembrei-me de ti!...Corremos, rimos e louvamos a chuva que baptizava;Os beijos, o amor que fizemos com girassóis cúmplices cantando,Que nada abrigavam mas confortavam nossos corpos enlameados...Destemidos e loucos, de joelhos juramos eternizar aqueles momentos,Como testemunha o girassol tornou-se o brilho dos teus olhos,E a candura da nossa entrega...Hoje que chove copiosamente, desenho teu olhar de girassol,Teu sorriso infinitamente lindo na janela molhada,Onde as gotas de água simulam contornos do teu corpo suado...Pouso a cabeça na almofada das lembranças,Sorrio! A chuva fala-me de ti,E agora sei que estás aqui!No eco dos risos e beijos deslumbrantes que demos...Vou-te ligar, vou-te escrever, e girassóis te enviar!...Carlos Reis

Na chuva da manhã desenhei cores na água,colorindo o ar.No arco-íris da tarde pintei flores de papel,que semeei em castelos de neblusidade.À noite na praia escura inventei sol verde de remendos de nuvens,rebolando por ondas de mar furioso.Fui deitar-me e... meu sono esculpiu tua figura imponente,olhar penetrante, em alerta, para sossego do meu dormir!Carlos Reis

Não quiseste vir comigo no outro dia, Até ao outro lado do monte,Deixaste-me triste e magoado,Deambulei... fiquei soturno e assombrado.Queria de mãos dadas subir o monte contigo a correr,Para te mostrar o jardim que fiz para deleite do nosso gostar,- Uma lagoa de águas serenas e azuladas,Uma palmeira enorme para refrescar nossos beijos sôfregos,Plantei orquídeas, gardénias, lírios e cravos para realçar teus olhos de mel,E na espessa relva verde pudéssemos consumar nosso amor!...E agora não tenho mais vontade de lá voltar,Todo esse sonho se desvaneceu,Porque não quiseste de mãos dados subir ao monte comigo...E nada resta já desse bocado de paraíso,Desapareceu sob o manto da minha dor!...Carlos Reis

De tamanha beleza é a tua figura, teu andar,Que me arrepio da tua sombra pelas árvores, esvoaçando,E no cair do dia reflexo cinza invade o riacho do meu pensar,Onde te lembro... lembro nosso namoro...E o dorso do cavalo são as quedas de água onde te evades,E pelo olhar negro do animal te mostras, longe,Quase imperceptível...São tantos os rostos que me invadem,Queimam meu peito doído e saudoso.Sempre soubeste arranjar teu rosto, tua aura,Diferente em cada dia,Montada no desenho da égua cinza, À porta do meu olhar,Nos prados da nossa entrega, nossas juras sagradas.És a imagem de mil fontes, mil rostos,Que desde menino te desenho na relva do nosso cavalgar!...Carlos Reis