Sexta-feira, 25 de Novembro de 2005
Os Nossos Sons
Foi assim que compus a primeira melodia para ti,Numa construção de legos naturais ao crepúsculo do dia,O mar brincando por entre as rochas, tal como criança mimada,O sol banhando-te o rosto: espelho de mil cores, cabelos em demanda,Feitiço teu, inspiração minha, na flauta toquei como nunca!Tua figura vibrava no ambiente dos sons; da água, dos rochedos,As ondas de emoções fortes envolveram-nos, levitamos sorrindo,Foram tais as sensações mediúnicas quando tocaste meus lábios com os teus,E teus braços me entrelaçaram, que a melodia da flauta se eternizou,Ficamos ali o resto da noite embalados pelo canto que não se calou...Sabes sereiazinha minha amante, o mar está lá,As rochas, a areia, o grande rochedo misterioso continua lá,Vou-me sentar bem lá no alto, pegar na flauta e tocar sem descanso,Para ouvires, e vais aparecer, para nova melodia tocar para ti...Levitar novamente juntos pela mão da magia do nosso gostar!Carlos Reis
Sexta-feira, 18 de Novembro de 2005
Sementes de Mim
Nas penumbras dos tectos de nuvens de Outono,Junto ao arvoredo que nos acolhia afagosamente,Lá depositávamos as nossas histórias de amor,Pactuadas com risos e delírios de paixão quase infantil.Lembro-me dos beijos, afectos trocados, contos elevados aos céus,Labirínticos cósmicos era o seio do nosso divagar.O teu colo, os teus ombros, eram o travesseiro da minha sonolência mental;E levei-te comigo em passeios astrais... Orion, Cassiopeia, Antares,Em braços meus, enormes e quentes, teu sorriso brilhante me embalava,Nos jogos de sedução feitos pelo namoro segredado por ambos.Crepúsculos de dias sem fim dormentes e saborosos nos enlaçavam,Exacerbando as sementes de mim que no quente do teu peito poisavam.Sempre te tive e vi, como a mais bela borboleta endeusada!...Carlos Reis
Quinta-feira, 10 de Novembro de 2005
A Metafísica de Nós
Leida, sombra das sombras da vida,Tu que rastejas, voas, uivas e nadas,Coisa invisível, seiva metamorfoseando-se,Tenho saudades das nossas caminhadas e viagens sem fim.Que saudades dos teus voos de águia,Dos planaltos, das serras que teus olhos me mostravam,Do teu corpo de cobra serpenteando pela terra húmida,Os cheiros que me chegavam.Da beleza do teu andar de Gazela dócil e encantada,Dos mergulhos em ribeiras de águas levemente bravias,Ao lado do teu corpo ondulado de golfinho me sorrias;Da loba que eras nas correrias entre árvores onde nossos sinais deixámos.Leida, brilho dos azuis e verdes... relampejando,Inflamando meus sentidos, meu âmago, minha mente;Figura, silhueta feminina em constante mutação,Tenho-te desenhada no livro de areia metamorfoseando-se,Pelas escarpas das recordações do meu olhar que te busca serenamente!...Carlos Reis
Quinta-feira, 3 de Novembro de 2005
Subido da Terra
Subido da terra; entranhas que me conceberam,De olhos espelhados e braços erguidos,Amaino fogos e águas tormentosas de outros pesadelos,Decidido em passos ternos vou acalmar meus sentidos.Vou tecer teias de brancura nos pensamentos bolorentos,Vou quebrar com elos antigos e emanar vibrações reluzentes!...Vou apanhar todos os sorrisos do ar, que me chegam,Aconchegá-los no calor da palma de minha mão,E contar-lhes histórias de sóis e luas que se namoram...Vou induzi-los a passearem-se pelos fios de teias livres,Em ruas, avenidas e vielas de recordações de êxtases já vividas,Vou ensinar-lhes a sacudir o pó seco que se acumula nos olhos,Vou ordenar-lhes: -Sorrisos, abram as asas e desprendam-se...Voem, voem por aí...E aprendam com o namoro dos sóis e das luas!... Carlos Reis