Segunda-feira, 28 de Agosto de 2006
Passeando

Não trocava por quase nada os passeios nocturnos, a sós,Em dias amenos que o ímpeto do meu ser me pede.Deixo o carro parado em qualquer lado,E parto vagarosamente sem ligar nenhuma ao tempo,Acendo o cigarro e de mãos nos bolsos caminhoOuvindo o eco dos meus passos, Sem ritmo nem compasso
Caiu geralmente pelas margens do rio e do mar, O rio que me viu nascer e o mar que me adoptou.Rio de águas calmas e dormentes que tantas vezes me banhou,Me gozou com algumas correntes de propósito, tudo brincadeira,Em rodopios de braços largos obrigando-me a rir com ele,Qual criança em tropelias travessas e desajeitadas
E olhando o mar de horizonte infinito, perco-me em pensares;Gosto do seu ego poderoso, cheiro inebriante, estímulos do espírito,Ondas de corpos diversos em espumas coloridas que brincam nareia,Ruídos musicais nas rochas
instrumentos de eleição em leitos sinfónicos
E no manto do céu, onde os brilhos das estrelas atentas e protectoras,São o alento dos olhos e as lanternas das direcções,Surge do nada a neblina com asas imensas que tudo vai cobrindo, Desenhando paisagens desconhecidas multicoloridas com o amanhecer,Piu-pius da passarada
e eu não sei aonde desperto
São horas de voltar!...Carlos Reis(Imagem: Autor Desconhecido)
Domingo, 20 de Agosto de 2006
Rio Traído

Estou triste porque estás triste rio. Vagaroso, sujo, quase sem corpo,Por mais que te espreguices as margens estão longe,Em agonia, lamacentas, querem a tua frescura nas mãos,E tu cabisbaixo só podes acenar-lhes chorando
Custa-me ver-te assim sem água, esquelético;As ervas, as pedras, as raízes tão secas à tua volta,Olham-te amarguradas
piedoso olhar da morte!Que fizeram à tua nascente de outrora larga e vasta,Portentosa, enorme, de tanto brilho que a vida airosa,Ria de tanta limpidez e satisfação onde as margens tuas amantes,Engravidavam em abundância com a essência fértil que lhes davas?Sem poder evitar um lágrima no rosto,Olho-te e molho os pés em ti,Num fio de água escura e quente,Envergonhado, humilhado, aviltado;Nem me respondes como dantes,- Quem te quer fazer desaparecer desta maneira rio?Carlos Reis(Imagem: Autor Desconhecido)
Domingo, 13 de Agosto de 2006
Mar Da Praia

Tantas canções inventadas espalhei nestas margens,Da praia, meu berço de amores e encontros,Não podia ver uma cara bonita que não a olhasse,Com sons nos olhos e poemas largados às aragens.Os bons ventos do mar os levavam,Para nas suas mãos os deixarem em letras de pensamento,- Cantava-lhes os olhos de múltiplas cores, os cabelos soltos dançando,Os sorrisos abertos como voos de mariposas,E os encontros marcados que eles combinavam.Sou feliz pelas horas dos dias e das noites,Que por aqui deambulei, passeei, amado e encantado,Com vossos rostos e toques de pele endiabrados,Pelas correrias nareia, mergulhos na água, beijos partilhados.Hoje que por aqui ando pisando os sinais dos mesmos passos,Olhando as caras bonitas que esvoaçam ao meu redor,Sorrio
e invento novamente canções e poemas,Que vos entrego directamente nos olhos iluminados de alegria,Louvo pois, este cruzar de afectos no vai-vém de andares mansos!...Carlos Reis(Imagem:autor desconhecido)
Sábado, 5 de Agosto de 2006
Azuis

Azuis de água constantes,Armadilharam-me o ser e o juízo,Em tardes ventosas buscando seus olhares reinantes
E o mar inquieto, alvoraçado, olha-me piedoso,Conforta-me salpicando o corpo de espuma azulada,E cânticos nas rochas, murmúrio ruidoso
E o céu de azul esverdeado acena-me alegria,Pede às nuvens que passam que me contem histórias de finais felizes,Que se deram ali em tardes contemplativas de maresia
Lembro-me dos desenhos cinzelados pelo corpo dela,Na toalha de azul amarelado, macia como a pele dela,Olhando-me sentado na rocha em frente, quieto, hipnotizado
Sorrisos parados, Mãos em movimentos lentos chamaram-me,Estremeci, Ou foi a rocha que me empurrou, levantei-me e caminhei torpe,Sentei-me a seu lado em perfumes não constados,E o céu e o mar de muitos azuis,Caíram-nos em cima,Envolveram-nos, e ficaram a ouvir tanto de nós em silêncio!...Carlos Reis(Imagem:autor desconhecido)