Quarta-feira, 27 de Setembro de 2006
A Flor (Sou Bonita e Depois?)
Olhem para ela toda vaidosa,Altiva nas suas vestes de púrpura,Vestido longo de sedas, fino, apertadinho no corpo esguio,Chapéu de abas altas cobrindo cabelo de caracóis,- Veio apanhar ar ou
está no engate Sra de pétalas mimosas?...Deixe-me dizer-lhe que o sol dá-lhe brilho de encanto,E o vento fá-la baloiçar de atraentes olhares,Nesse corpo ondulante, irresistível, que entontece qualquer um,- Por mim lhe digo já
que me conquistou!...Gosto do seu charme, toques de cabeça com classe,E do perfume requintado que me chega, hum deveras inebriante,Gestos e acenos bem cuidados com que saúda a brisa fresca,- Sem dúvida Sra que deixa o meu gostar «apanhado» com sua figura insinuante!...E boa escolha a sua ao vir morar neste jardim à beira-mar,Basta-lhe abrir a janela e tem montes de admiradores para a olhar,Em piscares de olhos atrevidos vão-lhe sussurrando coisas de corar,- Olhe, também eu fiquei cativo da sua beleza e sento-me na relva à sua frente, Se me permite a namorar!...Carlos Reis(Imagem: António do Vale)
Quarta-feira, 20 de Setembro de 2006
Desenhando Adulações
Se tivesses vindo comigo palmilhar as areias quentes,E olhar o Sol sábio, indagador e perspicaz,Terias percebido o peso das emoções que deixei escrito no meu olhar,Quando alinhavei e peguei nas tuas mãos lá atrás
Terias percebido que em silêncio pedi-te que ficasses,E mostrar-te-ia o sítio onde o fogo do gostar mais arde,Onde o amor e ódio mais se completam e detestam,E escolherias sem lágrimas as portas do inferno ou da arte
Quisesses tu partilhar os voos da luz no horizonte afável,Onde os sons do meu pensamento são hinos dos céus;Caminhos azuis, cascatas de mel, castelos de palavras que se elevam,Poisos de rouxinóis apaixonados, ninhos de braços (os meus e os teus)
Disse-te tanto nas palavras que não escrevi,Não entendeste o brilho do sol confidente,Os dizeres das ondas molhando-te os pés,Os sorrisos que espalhei no teu cabelo,Os dedos amantes que lábios desenharam no teu peito
Não entendeste e eu agora rasgo o desenho que fiz de ti!...Carlos Reis(Imagem: António do Vale)
Quarta-feira, 13 de Setembro de 2006
No Rochedo... Meu Barco...
Preciso de descartar o tédio das rotinas repetidas,Dar uma volta por aí, sair da cidade cansativa,Pegar boleia de barco e subir montanhas de água, Deixar que os olhos se consolem do nada, só horizontes vagos e rasgados,Nos cheiros dos mares e céus e que as nuvens dancem para mim!...Quero que os ruídos das ruas se danem,Fiquem roxas de inveja quando souberem da minha ida,Pelas estradas da água, chapinando os pés na espuma das ondas,- Ó harpas ondulantes, toquem para mim as cantigas dos navegantes!...E de braços erguidos beijar a neblina na pontinha da proa,Sussurrando ao fresco que me inunda quanta é a paz que me invade,E se o mar revolto ficar, não o vou desafiar, antes;Vou abrandar sua ira com acordes da minha voz, assobiando
- Contando histórias de marés mansas que ouvi na praia das rochas musicais!...E um dia quando voltar a terra, à cidade cansada e barulhenta,Irei gravar nas pedras das ruas a solene embriaguez,Com que o mar me toldou a sobriedade da calma que me foi dada!...Carlos Reis(Imagem: Alba Simões)
Terça-feira, 5 de Setembro de 2006
Alegna (A Paixão)
Deste-me fluxos de alegria e salpicos de amor,Com que me banhei no lago criado pela escrita trocada,Em imaginadas folhas de papel de cor
Deixaste-me tocar-te com as mãos das minhas palavras,Que recebias e guardavas no baú das emoções,No meio de outras tantas ricas recordações
Quantas vezes passeei contigo de mãos dadas,Com sorrisos nos olhos nas mensagens por ti enviadas,Lidas e relidas por mim sem pressas
Gostei de te ver por dentro, pela entre aberta porta que namoramos,Tu de um lado dançando, eu do outro ouvindo sonhando,Na coragem tentada
que desperdiçamos
Amei-te, gosto-te muito nas palavras que sempre escrevi,E deixei que fosses tu a perceber com a lupa do sentimento,O quanto te cativei
aqui nunca menti
Fiz-te perceber o desejo de ti nas brincadeiras do momento,Quis ter-te e não soube ter arte para o conseguir,Mas o tempo está a nosso favor, deixa-me ganhar alento
E mesmo sem nunca ter tocado os teus lábios, tua pele,Já senti ao meu lado, em horas de insónias, o teu perfume,Vou esperar, declarar-me, meus lindos olhos castanhos de mel!...Carlos Reis(Imagem: Cláudia Antunes)