Sábado, 28 de Outubro de 2006
Olá Companheira

Hoje não me apetece pensar em nadaVou ficar aqui só a olhar-teA noite está bonitaO tempo está bomE eu estou bastante cansado para pensar
Amanhã se ainda por aqui andares e quiseresFalar-te-ei da voz do ventoE dos recitais dos maresContar-te-ei coisas das minhas lembrançasDesabafarei contigo coisas das minhas angústiasRelatar-te-ei momentos meus de alegrias desmedidasEstá bem Lua?!...Carlos Reis(Imagem: Autor Desconhecido)
Sábado, 21 de Outubro de 2006
Seduzido

És um riacho serpenteado que gosto de olhar,Tocar-te nos sulcos e relevos com enlevo,Deixar-me amar no teu leito suave e perfumado,Onde as nossas águas se misturam quando se cruzam,Nos redemoinhos mútuos da terra e céu permitidos
Passear as mãos em teus cabelos molhados,Cascatas de pingos do meu rosto abrasado,E mergulhar no gosto da frescura das tuas margens,Raízes palpitantes estas
dadas e partilhadas
E o teu gosto tomá-lo pela corrente límpida,Que fazem dos meus lábios bandeja bendita,Onde a sede é saciada nas pedras suadas do teu corpo,No sabor de mim, de ti, deslizando riacho abaixo
E dormito agora contigo ao meu lado,Nos teus ombros o meu olhar,Na água fresca que corre os nossos pés!...Carlos Reis(Imagem: Autor Desconhecido)
Sexta-feira, 13 de Outubro de 2006
Águas Do Meu Rio (Douro)

Estás-me na alma e no sentir rio,Embriagas o meu sangue quando te percorroNas idas de canoa por ti acima,Em valentes remadas por teres essa mania de me empurrar.Mas depressa te apanho a suavidade do corpo,E sorrio pelo gosto de te contrariar,Pelo prazer de te cheirar,E vou-me por ti na frescura inebriante que soltas.Sei de cor as tuas margens em cascatas,Os verdes e azuis dos musgos das tuas pedras,Os areais onde te espreguiças, ora calmo ora ruidoso,Que olho sempre com o mesmo gostar como da primeira vez!E canto bem alto ao vento que me despenteia,Com o som do gravador no máximo espalhando aplausos,Há liberdade que me dás e me brindas,Nas carícias húmidas com que brincas no meu rosto
Rio-me e grito e aceno aos companheiros do ladoNa boa demanda conquistando palmo a palmo as tuas águas,Remada em remada teu corpo de cobra sinuoso.És uma paixão que tenho bem dentro de mim Douro,Que perpetuo quando te navego e confesso o meu namoro;Sempre que te toco,Quando te olho,Quando te lembroE sinto de olhos fechados!...Carlos Reis(Imagem: António do vale)
Quinta-feira, 5 de Outubro de 2006
Noite (O Meu Berço)

A noite tem aquele lado bendito do viver,Quase mediúnico
Nos sons espalhados em ecos serenos dos passos calmos,As cores e brilhos que se multiplicam milhares de vezes,Os pensamentos que jorram como cascatas de água,E nunca cansam o pensar, a reflexão, a divagaçãoDas palavras, das emoções que se soltam,Na fluidez com a brisa calma que embala a cognição
Noites como a de hoje onde a Lua Gorda e bela,Está tão cheia, enorme, que posso estender o braço e tocá-la,E bem acompanhada pelo sublime fundo,Incessante piscar das estrelas em seu palco favorito bailando,Na sinfonia dos silêncios onde a minha respiração é o único instrumento que ouço
Na calçada de paralelos que desço até à beira-mar,Só as sombras disformes dos caminhantes da noite, como eu,Parecem soturnas, arredias da satisfação da leveza do andar,Quase deslizante
E com o aproximar da água do rio e do mar,Orquestras nos seus altares de sublimação,A euforia interior cresce, transborda por todos os meus poros, Em quietude
enche-me o peito, agrado muito da alma e do Ser;Frenesim forte, cheio, controladas ondas de sedução
Nunca me canso de olhar o mágico fogo de artifício,Que a Lua, as Estrelas, e o brilho do meu gostar,Dão às águas do rio e do mar:Berços do Espírito de sonhar!... Carlos Reis(Imagem: António do Vale)