Domingo, 26 de Novembro de 2006
Crónica (Falando Convosco)

Cada vez mais me apercebo da indiferença que há entre as pessoas,da desconfiança que se nota à partida de qualquer comunicação,uma simples conversa começa em geral por mentirinhas, depois meias verdades, até que, com alguma relutância lá despem as defesas,e a verdade começa a surgir
com pezinhos de lã!...Ou seja, primeiro que baixem as defesas e abram as portas da sinceridade,é preciso fazerem-se bastantes joguinhos de piruetas e labirínticos de palavras,belas encenações de esquemas para que se ganhe alguma confiança do outrem,e assim, com alguma sorte, lá se pode chegar à essência das questões:falar claro e abertamente
é assim que melhor nos entendemos!...Com isto quero dizer que as pessoas cada vez mais perdem tempo,com o medo, o receio, jogando com rodriguinhos para perceberem se o outroé de confiança. Isto até faz sentido nos dias de hoje em muitas situações,mas generalizar não, ou então, antes que digamos o que queremos, já estamos a ser revistados com olhares, de cima abaixo, de apreciação!...Os avanços tecnológicos e científicos actualmente são muitos e bons,o nível de vida das pessoas se não é o melhor, já foi pior, sempre está melhorzito.O que não está nada bem é o relacionamento entre as pessoas.O que é um grande paradoxo: sobem os conhecimentos, descem os relacionamentose a confiança. Isto é muito incongruente, e que me leva a dizer que:se por um lado sobe o nível de vida em termos técnicos e humanos,desce espantosamente a confiança de honestidade entre os humanóides!...E isto assusta-me porque não entendo!Estamos em simultâneo a percorrer dois caminhos de entendimentoe percepção diferentes.As pessoas, os seres humanos quanto mais conhecimentos técnicos têm,mais se afastam em termos afectivos, compreensão, tolerância e confiança!...Assim, cada vez mais nos individualizamos,E cada vez mais estamos sós!Carlos Reis(Imagem: Bruce Shapiro)
Sexta-feira, 17 de Novembro de 2006
Lago da Sedução

É nestas margens que venho espairecerSempre que ouso pegar nos bocados da tua recordação,E lembrar os nossos risos reflectidos na água claraEntoando cânticos aos pássaros, piu-pius de emoção.E nos passos tranquilos calcando as folhas caídas,De olhos semi cerrados pinto-te mentalmente nas impressões aqui deixadas;Os sorrisos espalhados pelos verdes da relva e dos teus olhosTão límpidos que podia ver o teu sentir,A tua alma transparente, tal como este lago que baptizou nosso gostar.Sentado ponho-me a pensar que se desejar vais aparecer,Transformada num lindo animal feito pela brisa que passa,Companheira de sempre deste lugar...E sei, parece-me saber, que do outro lado do lago,Olhas-me, brincas deixando teu olhar cair na água,Como outrora fazia-mos delirando promessas infinitas,Segredos de paixão, rumos traçados na mão
bendita tábua!...Carlos Reis(Imagem: Autor Desconhecido)
Sábado, 11 de Novembro de 2006
Olhando o Mar

Tantas vezes nas janelas abertas da Foz,Ao contemplar-te horas a fio mar,Me deixo embalar pela tua música pelo teu respirar,Mesmo quando a tua fúria é imensa,Constróis momentos de encanto e castelos de soberba
Sussurrei-te várias vezes no meu pensar,Que se fosses mulher desposar-te-ia
E andar contigo de mãos dadas pelos mundos das águas,Conhecer teu riso e teu chorar por oceanos de mistérios,Em ilhas e terras desconhecidas sentado nas pontas das ondas nuas
Partilharmos as vozes dos nossos egos sem incómodo de ninguém,Abrir as sensações místicas que nos une no mesmo ser,Que nos faz estar aqui e no fim de outro lado qualquer,Tu és eu, eu sou tu, os átomos que nos separem se quiserem
Deixo-te o meu sentir, fragrâncias dos meus desejos,Nos teus braços sem tempo mar, leva-o, não o percas!...Carlos Reis(Imagem: Autor Desconhecido)
Sexta-feira, 3 de Novembro de 2006
Ela

De manhã e à tardinha quando o sol se despede,Espreito-te da janela do pátio,Gosto do teu andar de gazela elegante,Sorriso posto, inocente e matreiro,Sabes que te olho e acenas-me com jeito provocante.Deliberadamente sentas-te e mostras tuas pernas onduladas,Lindamente desenhadas,Pisco-te o olho e convidas-me para o teu lado,Sorrio
sedutoramente brincas com os lábios,Como se estivesses enviando sorrisos cheios de recados,Nas caretas que me fazes
que tentação criatura bela
Fixo os olhos nos teus seios redondos, quase destapados,E tu atrevida lanças-me olhares descarados,Caminhas dançando à volta do canteiro nu, desfolhado,E as linhas do teu corpo são ondas que se desprendemPara meu regalo
deleite safado
Salto a janela sem disfarçar o êxtase que me invade,Quero os teus braços a envolver-me bem apertados,Preciso de tocar tua boca, provar teus sentidos,Embrulhar-me em ti na terra molhada de tantos segredos
Respiro-te, respiras-me
estamos atados!... Carlos Reis(Imagem: Beba Fernandes)