Letras Pinceladas

Sabes da última Zeca?Tu daí de cima tens acompanhado aquele programa da RTP “Quem foi o maior Português?”…Se calhar ainda não sabes da votação do pessoal cá debaixo, os Portugueses!... Sim, esses Portugueses Democratas que conheces bem e muito fizeste por eles.Nem sei o que dizer disto, estou estarrecido, as palavras “calaram-se-me no gargomil”!Vê lá bem que homens como Vasco da gama, Afonso Henriques, Camões e Pessoa, entre outros, fizeram parte de uma lista de 10 nomeados, os mais votados ao longo de meses.Imagina lá quem os portugas modernos e democráticos do século 21 escolheram como o maior Português de todos os tempos!!??...Não, D. Afonso Henriques o pai da Pátria não foi!... Luíz de Camões o soldado e cantor poético que tanto enalteceu este País, lamento dizer-te mas também não foi!...Dizem as más línguas que esta votação foi forjada, criada por manobras de bandos saudosos de outros tempos, daqueles tempos que combateste, lembras-te?Outros dizem que esta votação é o resultado da revolta da vida que as pessoas levam hoje em dia cá por baixo… e olha que aqui sou capaz de concordar com isto! Este sistema democrático assente no capitalismo, em vez de distribuir melhor a riqueza que se vai fazendo, está a criar fossos enormes nas camadas trabalhadoras… isto já parece um bailinho de subidas de impostos.Faz-me lembrar o outro que diz: “Ora «oda-se», ando a trabalhar de manhã à noite para ganhar 100 e pago 50 de impostos, não pode ser!”.Dizes o quê? A iliteracia e maus conhecimentos da história de Portugal também podem contribuir para esta votação desastrosa? Olha Zeca, és capaz de ter toda a razão! Da maneira como a escolaridade é feita hoje, dá para tudo! Tens acompanhado os folhetins da Universidade Independente… ora uma direcção está no activo ora é enxutada do poleiro, entra outra e vai de cana, para entrar a anterior, e andam nisto dia sim dia não, isto dá para acreditar???O quê?... Ainda não te disse quem ganhou o tal concurso “quem é o maior português”? Bom… lamento o desgosto… foi o salazarento!.... esse mesmo, o da ditadura que tanto combateste!É triste dizes tu… podes crer que sim amigo Zeca Afonso!…Carlos Reis(Imagem: NET)

Há cavernas escuras e sombrias de luminosidades assustadoras,Onde fios de luz percorrendo estreitos filamentos,Se cruzam e entrelaçam como ribeiros em novelos…Há os pensamentos desconexos e sábios que se agarram,Unhas espetadas nas paredes da mente,Por onde escorregam, desmaiadas decifrações, levadas pelo saber crente…Há os olhares abstractos, escondidas fundições, carregando ideias,Onde as estruturas de nichos são os mais belos laboratórios do génio,Que programam a diferença nas correntes mais sabedoras das veias… Há os poços sem fundo, em constantes aflições, espalhando palpitações,Que em correrias sôfregas pelos veios da montanha viva,Em graça aqui, desgraça acolá, constroem as baías dos segredos das emoções…Há bibliotecas de genes em longas escadarias de sapiência,De abraços repetidos,Beijos irmanados,Sorrisos espelhados,Desenhos de gostares em montras nuas,Nas naus de todos os nossos oceanos!...Carlos Reis(Imagem:Emma Brock)

Pois gosto, gosto muito de sonhar,Gosto de sonhar à janela em noites de brisas frescas,Olhando o céu povoado de brilhos dançando para mim,Deixar a mente partir, metade de mim fica outra vai a pairar,Fluir no éter, às cavalitas de filamentos de átomos sem fim…Gosto de pensar na possibilidade de brincar nos fios de luz das estrelas,Passear no vácuo em passos lentos sorrindo à Terra,E há minha outra metade na janela,Acenar-lhe, sorrir para ela…Gosto de sonhar pois, que a mente me leva sem asas nem barreiras,Até aos confins do universo onde os anjos tocam músicas,E encenam cenas de teatro louvando a criação,Sentados e de pé dedilhando liras à volta das fogueiras…Gosto dos deslumbres das cores das galáxias que me enchem os olhos,Sentir no corpo o macio do voo e dos líquidos incolores,Que sustentam o meu imaginário além físico,Na leveza do meu íntimo lindo cheio de sabores!...Carlos Reis(Imagem: Mark Been)

Se algum dia parecer não te olhar,É engano teu…Talvez absorto em pensamentos de outros dias,Que tão perto de ti quis tocar-te,E faltou-me a delicadeza de te olhar e convidar-te,Para o meu lado vazio e de ti querer preenchê-lo.Tão perto de mim figurinha, amante dos meus fulgores,Pena de mim tenho como preso em cela sem grades,De gritar bem alto, cantor sonoro, ave canora,Brado perdido que não foi dado pelos ecos dos montes,Assombrado por mesquinhos medos e temores.Quis, quero-te levar ao meu lado pelo areal,Molharmos os pés, conquista final, que nos beija e une,Deixarmos as ondas do sentir e do mar, coisa real,Criarem asas, abrirem céus, e em definitivo nossas mãos se darem!...Vamos correr então, olha os montes da lagoa ao largo,De tão verdes parecem azuis do céu e teus olhos,Subi-los vamos abrir as portas dos sons dos encantos,Pássaros vão entoar canções dos santos,Para louvarem nosso caminhar dado e entregue sem rogos,E lá brindaremos o gostar… o gostar que te trago!...Carlos Reis(Imagem:António Vale)