Domingo, 29 de Julho de 2007
Gestos ao Vento
Leva-me contigo num cantinho dos teus sonhos vento,Quero namorar-te sem limites e em todos os grãos de pó que levantes,Deixa-me ir a teu lado voando ao sabor do capricho pelos espaços descontinuadosE assim eternizar a tua, nossa paixão, pelos ares e horizontes errantes,Em crepúsculos de coloridos mansos pintados na palma da mão
Voem mariposas voem, voem pirilampos voem, figurantes que meu dorso acolhe,Nas diabruras que o tempo dá às brisas de poeiras sibilando sem rumo certo,Vamos juntos construir castelos de cantos de harpas de flautas de ecos em concerto,Filarmónicas entoando intemporais caminhos no vazio das razões sem nexo,Vamos pois então explorar os sentidos perdidos das paixões sem medo
Vamos tu e eu vento em sorrisos germinar os jardins dos pensamentos.Florir os compassos do peito que teimam em não se abrir sob o peso dos lamentos!Carlos Reis(Imagem Web)
Sexta-feira, 20 de Julho de 2007
Lenda
Lenda, sombra das sombras da vida em contínuas cantatas,Tu que rastejas, voas, uivas e nadas livremente pelas almas em serenatas,Coisa disforme e distante pedaços de seiva metamorfoseando-se,Tenho saudades das nossas caminhadas e viagens sem fim.Que lembranças tenho dos teus voos de águia desenhando nos céus,Dos planaltos das terras dos mundos que teus olhos me mostravam,Do teu corpo de cobra serpenteando pelas entranhas da terra quente e húmida,E os cheiros
os cheiros de fragrâncias endiabradas que de ti me chegavam.Da beleza do teu andar rápido de gazela dócil e encantada,Dos mergulhos em torrentes de águas sinistramente bravias,E eu ao lado do teu corpo ondulado de golfinho sempre que me sorrias,Da loba que eras nas correrias entre árvores onde nossos sinais deixávamos.Lenda, espelho de brilhos dos azuis e verdes
cores relampejando,Inflamando com tochas de contos meus sentidos meu âmago minha mente,Figura altruísta de silhueta feminina em constante mutação,Tenho-te escrita e pintada no livro de areia metamorfoseando-se,Pelas escarpas das recordações do meu olhar que te busca serenamente! Carlos Reis(Imagem:Web)
Sexta-feira, 13 de Julho de 2007
Recriar
Há dias que faço ouvidos surdos ao chamamento da rua.E prefiro espairecer na sala grande dos silêncios, casa dos meus deleites mentais,Vagueando nu ou vestido crio e recrio sem olhares inquisidores a espiar,E o gozo da alma engrandece e aplaude os devaneios de ideias celestiais
Pego no lápis meu instrumento primeiro de criação como piano se tratasse,E toco, toco desenfreadamente as letras para nas palavras surgirem ecos,De sons e tons onde as paixões e emoções se vestem e despem de composições,Veladas pelas mãos alegremente suadas pela escrita sem pontos nem interrogações
Pego na viola, pincel predestinado em espalhar cores em folhas surreais,Onde as formas da pintura se cruzam com pautas de músicas imaginadas,Trauteio canções nunca ouvidas em corpos de mulheres desejadas,Para assim homenagear as danças, as melodias, que a escrita me oferece
E os ruídos da ponta do lápis alongam-se no papel e correm como o tempo,As folhas pensadas, belas e esgotadas, amontoam-se em cenários guardados,No espírito de satisfação onde o tecto da sala é o refúgio
o meu templo!...E agora sim, vou caminhar pelo fresco da noite,Hummmm
isto sabe-me tão bem!...Carlos Reis(Imagem: Web)
Sexta-feira, 6 de Julho de 2007
Momentos
Tenho dois sítios predilectos e magníficos para repousar a cabeça e a alma,Quando não me apetece ver nem falar com ninguém:Um é a costa à beira-mar e à noite onde comungo cumplicemente,Com os silêncios da areia e água a vontade de respirar livremente,Outro é o quarto-despensa onde a tralha das lembranças são fáceis de pegar
Caminhando pela areia, cheirando o mar e olhando o festim dos brilhos das estrelas,Assumo o corpo do fantasma vestido de gente, sem nenhuma preocupação a me ralar,Deixo-me ir pela quietude do momento de mãos frescas que me proíbe de pensar,E digo-vos, a sensação é tão bela e repousante que não sei onde está, o meu estar!
No meio das coisas de memórias verdadeiras, no quarto-despensa,Caminho na estrada do tempo pegando em livros e discos empoeirados,Folhei-os e ouço-os sem os abrir ou pôr a tocar,Mal os toque com o olhar sei o que são e da realidade de ontem que contam;Por vezes estendo-me no chão, de olhos abertos ou fechados tanto faz,E a fita da memória rebobina-se e deixo-me ir pelo filme que muito me agrada,E novamente a sensação repousante volta a ser bela o que muito me apraz!... Não se pode viver bem o hoje e o amanhã,Sem aproveitarmos o que de bom o ontem nos deu!...Carlos Reis(Imagem: Web)