Domingo, 23 de Setembro de 2007
Brindo Às Senhoras
Outrora belas estas mulheres cansadas pelo tempo ainda,Desafiam a gravidade das calçadas íngremes e desajeitadas,De aventais coloridos e caixas e canastras em cabeças escondidas,Silvam pregões sonoros e límpidos que se espalham pelo ar...São rostos cinzelados de sulcos e rugas vergastadas pelos anos,Passos ora firmes ora vacilantes em pedras deslavadas,E gastas pela porrada de rotinas viciadas,E têm traços vincados de lágrimas sofridas sob os olhitos laços
É vê-las pela manhãzinha sem amedrontamentos,Faça frio ou chuva ou sol elementos impiedosos,Que nunca as poupam em raivas contidas,Ó freguesa
ó freguesa olha o peixe fresco e vivinho!!!...E na resistência,Na tenacidade,Também na amabilidade,Há alma ainda animada,E conseguem sorrir às vezes
É verdade ainda têm força e vontade para sorrir.. vejam só!...Carlos Reis(Imagem:Web)
Segunda-feira, 17 de Setembro de 2007
Dividendos Na Noite
Muito gosto eu de ir para o mar à noite,Sentar-me no chão e absorver os silêncios em tons diferentes,Deixar-me envolver pelo céu limpo fervilhado de brilhos,Piscares de olhos incansáveis maneios de sedução,Véus de sensações trazidos pelas mãos do invisível,Em cantatas da água que se espalham nas moléculas sem sono,E meu ser minha alma são elevados a palcos em comunhão
Muito gosto eu de à noite confidenciar ao mar,Segredos que mais ninguém pode ouvir nem suspeitar,São paixões e sonhos de viagens que poucos entendem,Labirintos de sons que a razão desconhece,Escadas de pautas de música que se desvanecem no tempo,São templos de vivências guardados na mente,Em que só a água, o ar, a respiração consentem!Carlos Reis(Imagem: Web)
Segunda-feira, 10 de Setembro de 2007
O Efeito Narcótico dos Espaços Abertos
É no olhar e contemplando o horizonte até o perder de vista que o fascínio dos espaços abertos me atrai e encanta. Nas planícies, nas serras, nas ribeiras e suas águas em correrias, no mar imenso que constantemente me acena e enfeitiça que o desafio do voar se apossa de mim.Experimentem correr por um monte abaixo de braços abertos e vão sentir-se tão livres tão soltos, que asas invisíveis se abrem e levantam-nos em sensações inarráveis, sem destino, levitando-nos!...Vão ao cimo de uma escarpa alta e olhem para baixo para o vácuo, levantem os braços e gritem bem alto, e o eco prolongado que se faz sentir é o primeiro bocado de nós a voar, virem-se de costas e olhem o céu e deixem o corpo baloiçar em todas as direcções e sintam o eco de volta tocar-nos, trespassar-nos a pele, penetrando e enchendo os poros
levando-nos no seu sopro!...Entrem pelo mar adentro e já longe da costa deitem-se de costas boiando, olhem as nuvens e os azuis do céu em movimento, motores de partida em viagem ao calhas, qual barco sem timoneiro nem bússola
nos sentimos tão unos na correnteza do vento e no embalo das ondas sem rumos que nossos corpos perdem significado, só nos fica a leve consciência do deslizamento do voo!...Ou, simplesmente, subam ao rochedo e sentem-se de pernas cruzadas, fechem os olhos e esvaziem a mente
deixem-se envolver pelos silêncios e cantares serenos do mar
pelo fresco do ar que nos invade de pequenas golfadas de sons
e deixemo-nos ir!...Carlos Reis(Imagem: Web)
Sábado, 1 de Setembro de 2007
Olá Menina!
Lembrei-me de ti quando entrei naquela gruta da Serra,Do gosto de andarmos e escorregarmos nos musgos das rochas,Tu descontraída e sorridente e eu aflito para não mergulhar no mar,Da felicidade que teus olhos espelhavam e eu, confesso, meio aterrado,No alto disfarçava sentindo tua boca na minha e teu sôfrego respirar
Nos jorros de água que caíam na corrente lembrei-me do chapinar dos teus pés,E nos reflexos brilhantes encontrei o brilho dos teus olhos raiados pelo sol,O meu respirar tomava vida sibilando nas paredes molhadas,E em vibrações surdas devolviam-me o ar que respirava, que na altura respiravas
Sondei o eco com teu nome em grito sereno,Espalhou-se no fechado da gruta vibrares que me tocaram de fininho,Envolvendo-me, levando-me para outras paragens, sítios marcantes,Talvez por impressão minha pareceu-me ouvir tua voz baixinho.Ilusão claro e que importa? Adoro as emoções de vidas constantes
E se fechar os olhos
se fechássemos os olhos agora aqui,Neste lugar lavrado pelas águas pelos musgos pelo tempo sem data,Algo de mim, de nós, se desprendia do corpo em transcendências sem rumo,Talvez para os rochedos dos nossos desenhos que nada apaga nada mata!...E sabes, continuo a ter terror danado quando ando pelos musgos!Carlos Reis(Imagem: António Vale)