Terça-feira, 29 de Abril de 2008
Meu Barco Meu Rochedo
Preciso de me desligar do tédio das rotinas repetidas,Dar uma volta por aí, sair da cidade cansativa,Pegar boleia de barco e subir montanhas de água sem rumo,Deixar que os olhos se consolem do nada, só horizontes errantes e rasgados,Nos cheiros dos mares e céus e que as nuvens dancem para mim
Quero que os ruídos das ruas se danem,Fiquem roxas de inveja quando souberem da minha ida,Pelas estradas da água, chapinando os pés na espuma das ondas,- Ó harpas ondulantes, toquem para mim as cantigas dos navegantes!...E de braços erguidos beijar a neblina na pontinha da proa,Sussurrando ao fresco que me inunda quanta é a paz que me invade,E se o mar revolto ficar, não o vou desafiar, antes;Vou abrandar sua ira com acordes da minha voz, cantando e assobiando
- Contando histórias de marés mansas que ouvi na praia das rochas musicais!...Olhar e ouvir os cânticos das baleias nos seus caminhos azuis de procissão,Acenar e aplaudir os bailados dos golfinhos nas largas salas de danças de água,Aprender com o olhar a desenhar na tela do céu o deslumbre que as estrelas me dão,E o sol e a lua, fiéis companheiros, hão-de lembrar-me para guardar,Embrulhar
bem cá dentro de mim
estas impressões inusitadas
E um dia quando voltar a terra, à cidade cansada e barulhenta,Irei gravar nas pedras das ruas a solene embriaguez,Com que o mar me toldou a inquietude da alma na calma que me foi dada!...Carlos Reis(Imagem:Web)
Sexta-feira, 18 de Abril de 2008
Amanheceres
Muito gosto eu das janelas abertas ver o raiar do sol pela manhã,As pinceladas multicoloridas são um dançar eterno,Nas nuvens, nos telhados, no bocado da água do rio que daqui vejo,São sempre diferentes
cada dia é um renascer,Luminosos corpos e figuras se criam e agigantam,Aos meus olhos pasmados e deliciados de luz e cor
As gaivotas em grupo dançam na tela do céu,Em desenhos síncronos de alegria, estendidos, de ballet,São criaturas de coração e alma que gozam no ar,Em sinfonias de silêncio... ou de cantares de namoros escolhidos
As pombas aparecem desconfiadas, naquele ar que parece meio tonto,Olham-me na dúvida
há ou não comida? Penso eu que me perguntam!...Faço aparecer nas minhas mãos bocados de pão que lanço no ar,E as acrobatas se saciam no chão, com seu andar autómato,Vaidosas com seu rabo a dar e dar como leque refrescante
Cheiro divinamente o aroma do café do vizinho, Sítio de passagem dos amanheceres, dos olás, e do café tonificante,Chupando cigarro e sorrisos nos olhos,Olho o relógio... é a penitência depois do gozo do amanhecer,Não tenho dúvidas, está na hora de me pôr a mexer!...Mas antes de me ir, lanço último olhar aos telhados coloridos,Ao céu pintado por mim... sou eu que o vejo assim!...E sei que dia vai ser bonito,Tal como os desenhos das gaivotas à minha frente deambulando
E os violinos do bem-estar que até agora me acompanharam,Vou deixá-los à janela
impressões minhas
Amanhã pego neles e bom som me vão dar novamente,Exactamente como o cantar dos pássaros todos os dias,Tal como o cheiro divino do café do vizinho!...Carlos Reis(Imagem:Web)
Segunda-feira, 7 de Abril de 2008
Brincando com Mar
Às tardes e às noites quando te olho em cima do paredão,Respiro-te bem fundo, gosto do teu cheiro, gosto do teu olhar,Da tua garra mar,Fazes-me caretas e ruges como trovão, soberbo som o teu,Mas mar não me metes medo, gosto de ti assim ansioso por me alcançares
E gosto da tua fúria embatendo nas rochas abraçando-as,Salpicando meu rosto de água com teu mau feitio,E eu gozo com isto, e sorrio-te
não me intimidas,Mar
Adoro ver teu corpo dançarino e vaidoso e rebelde,Ziguezagueando desde lá de longe...ondulado e desvairado,Qual manto de amante enraivecido, secreta armadilha tua,Que ameaça pegar-me... mas matreiro eu, só te deixo pensar-me, Só te deixo aos meus olhos e sentires
enfureceres-te, Deliciando-me com teu vozeirão de pranto!Gosto do teu ar de arrojo, rebeldia de guerreiro destemido,Quando te levantas ameaçador,Parece tudo engolires sem desdém... arrasador,Mas é assim que te gosto, descontrolado, sem pudor!...Enfrento-te sempre com risos,Encharcados de água dos teus dedos que não me agarram,Ficas bravo por não te temer,E de gostar cheirar os teus cheiros sem receios,Mar...E tu Lua que te ris abertamente com minhas brincadeiras com mar,É neste crepúsculo de azuis menina de olhar de luz que te mostro,Reflectido nos lagos dos teus olhos o meu rosto molhado de alegria!...Carlos Reis(Imagem:Web)