Terça-feira, 22 de Julho de 2008
Simbioses

Se perguntarem por mim digam-lhes que estou no mar lá ao longe na minha jangada, em recolhimento no meu templo de eleição, onde o Ar, o Espaço Aberto e a Água se harmonizam em bênçãos celestiais e terrestres
e por favor não me chamem!...O Ar e o Céu que me fascinam na musicalidade que me dão como instrumentos de sopro em sibilares e silvos das flautas, das harmónicas e saxofones que chegam a ferir-me pela tamanha doçura envolvente e me levam nos seus tons estendidos de voos mágicos
e os frescos e as cores dançantes de braço dado premeiam-me com namoros de encanto que nunca me cansam
O Espaço Aberto que tanto me faz lembrar violinos desfiando sons ora frenéticos ora melodiosos como o esvoaçar das aves de asas bem abertas rasgando o vento em correntes deslizantes e que o meu olhar sorri e muito aplaude
transportam-me amiúde para as infinitudes de passagens de outros espaços sem barreiras
O Mar e sua Água de percussões bem timbradas que tanto me embala nas fortes e sonoras batidas de tambores quando se abraça às rochas e se estende pelo areal mostrando o seu belo corpo mesclado de azuis e verdes e roxos e sombras naquele ondular de feitiço único
ou nos rugidos de tubas em fúrias quando o humor está animado e no seu gozo próprio pensa em assustar, delicia-me com os seus risos de vozeirão deslumbrado
E neste estado quase hipnótico sinto-me cheio e indistinto também
tão leve e quase indecifrável como o monte de átomos que se juntam em brincadeiras de jogos e teimam em dar-me esta forma ao meu corpo muito mais diluída que sólida no rochedo onde me sento
numa espécie de simbiose onde os elementos da criação se unem e fundem e dão forma aos sentidos da vida!Sabes vida,É pegando nestes instantes,Bocados de ti e de mim,E na graça que me dão em senti-los,Que cada vez mais cresço na minha pequenez
Carlos Reis(Imagem: Web)
Sábado, 5 de Julho de 2008
Ecos

Quando me deito nas asas do pensamento sei que vou cirandar por aí até outras partes dos universos sem portas, as vias estão abertas sem limites
Que pode ser aqui ao lado, ou na rua de baixo, ou na galáxia vizinha lá longe, em caminhos de outros céus
O pensar, a mente tem este dom
viaja velozmente e podemos ir aonde quisermos, não há limites de espaço nem sinais de tráfego
Aqui ao lado no mar que me recebe de braços abertos em salpicares de amizade, e me brinda com os seus frescos inebriantes de dia ou de noite, e me tenta no marulhar dos seus cânticos, deixa-me passear no seu corpo ondulante e imenso que se curva lá longe sem reverências às leis deste mundo
e tudo é permitido
- Pode-se espreitar e caminhar para lá do que os olhos vêem e nada é proibido!... Na rua de baixo onde os meus passos são conhecidos de tantos deambulares solitários;Noites sem sono em olhares dados às sombras femininas de sorrisos fáceis, contudo verdadeiros e afáveis
e que me confortam sem nada lhes pedir.Ecos que se prolongam nos silêncios das luzes e piscares das estrelas,e minha curiosidade desprende-se de mim e atravessando a rua lá vai solta para onde quer e nada faço nem quero fazer para a reter
Na galáxia do outro lado do universo, qualquer um, sim qualquer um porque há vastíssimos universos, tal como desertos e florestas
aprende-se a conhecer o fascínio do desconhecido.Que em boa verdade de desconhecido só tem o aspecto do lugar imensidão de pontos que não param de brincar - e algumas cores que não consigo descrever
há tons de azuis, vermelhos e verdes diferentes dos daqui e não sei que nomes lhes hei-de dar
são miscelâneas transparentes onde tudo que é cor se une e desune em movimentos de carrossel desenfreado e os padrões se desvanecem em fragmentos de segundo a segundo sem tempo próprio
tudo aqui se passa demasiado depressa
a vida cósmica por aqui fervilha alucinantemente
E sinto-me perdido, não consigo coordenar as ideias nem pensares nem este ritmo bailado
vou deixar que a mala da memória registe e guarde o que puder e pôr-me a mexer
Gostei da visita mas já sinto saudades da minha Terrinha
até porque sei que tenho a Lua à minha espera
e nas suas mãos vou deixar-me descansar
ela sabe o que fazer a seguir
- deixar-me à janela onde desencadeei a navegação destes Ecos!...Carlos Reis(Imagem Web)