Terça-feira, 23 de Setembro de 2008
Amanhecer Contemplado
Aos poucos o manto nebuloso vindo do nada vai-se levantando com parcimónia,Num levantar de véu ritual de quem enrola a sua vontade por que assim o deseja,Lento o rio mostra o seu rosto de brilhos ondulados de acalmia em águas já estendidas, Gentileza recebida em saudações de abraços que a terra molhada festeja,Sulcando as margens do outro lado que ainda disformes tomam corpo pedregoso,No serpentear da água que cria efeitos dourados nas pedras mais reluzentes,Cinzeladas pelo vai vem do leito contínuo e teimoso
E as sombras fantasmagóricas dos montes vão-se desvanecendo,Mostrando a imensidão da beleza dos seus corpos bem desenhados no horizonte,Paisagens de verdes azulados brilhantes que se acavalam em carrosséis sem fim,São degraus enormes que cubro com o olhar cada vez mais deslumbrado,Na magistralidade do vulto montanhoso que ao longe se vai revelando,Imponente no seu dorso maciço que se ergue rasgando o céu estremunhado
Os feixes de azuis esventram pela espada do alvorecer o que resta da neblina,Anunciando dia novo pelas pinceladas coloridas por tudo quanto é sítio,Árvores na sua altivez espreguiçam-se e penteiam-se com a ajuda das mãos do vento,Deixando cair algumas folhas secas e lágrimas da humidade da noite de frio, Embelezando-se abrindo os cabelos floridos das pétalas nas vaidosas flores,Os galináceos em coros repetitivos decocorócocos saúdam-se e saúdam-me,Ecos de companheirismo aos ladrares dos cães que se espalham em clamores,Na bela sinfonia viva de vozes e cantares naturais que absorvo a contento
E Eu minúsculo cá em baixo sentado no chão do tempo,Deixo-me envolver por tudo isto e sons das rãs e aves que se deitam e acordam,Nos sopros da brisa fresca que animam os meus sentidos despertos e contentes.Em emoções que canto em silêncio nada omitindo à espiritualidade do momento,São violinos da alma que em estribilho louvam o pulsar das vidas emergentes,Sinto-me como mais um monte de átomos unos com a natureza que me rodeia,Neste cenário de alegria indizível, teatro de aplausos solenes que meu sangue incendeia!Carlos Reis(Imagem: Web)
Sábado, 6 de Setembro de 2008
Tela
Nasce mais um dia e com ele as tintas dos olhos coloram-se de brilhos,Fios multicoloridos tomam formas no horizonte do olhar como cascatas de água,As sombras da noite encolhem-se envergonhadas pelas pinceladas raiadas de matizes,E constroem-se vultos feitos do nada nos desenhos das nuvens navegantes,Como brinde de um novo dia sorridente dado de graça
Como cachos de uvas maduras, castelos laboriosos de fadas,Esperando ser colhidas com abraços de afectos,Como favos de mel suplicando por mãos cautelosas na entrega,Como ninhos de pássaros vaidosos nos enfeites que as crias enlevam,Como as cabeleiras das plantas abertas e esvoaçantes pelos sopros do vento,Como as tocas labirínticas das raposas engenhosas que a carne surripiam sem desgraça,Como as mulheres com seu jeitinho especial de atracção e conquista espalham o aromaDa alegria e emoções de feitiços de fórmulas desconhecidas,Como os miúdos nos seus encantos nos levam no carrossel de mãos dadas em brincaresSem tempo
onde os mais velhos são o espírito dos caminhos
Os companheiros da noite que nos envolvem no seu embalo sem nada pedirem,No céu bailado de luz pela lua e estrelas e mar cantado, marcam os nossos passos livres,Onde a música, um dos mais belos bálsamos da vida, dada pelo renascer do dia novo, É dádiva de todos nós enquanto consciência viva e desperta da alma da estrada em que caminhamos juntos
E as lágrimas quando caídas pelos rostos são as pautas das musicalidades da vida!... Carlos Reis(Imagem Web)