
Sob as cores e luzes nos arcos dos céus das ruas,O rapazinho perde-se no labiríntico andar das gentes à sua volta,É um jogo de bailar que aprecia, há fomes e vontades nestas correrias,E ri-se deste frenesim de corpos empurrados, quase embrulhados,Coisa que não compreendia, todos querem chegar primeiro a ninharias,Ânsias espelhadas em rostos cortados de suores cheios de refregas,Aparentemente subtis nas laboriosas escolhas nos apetites das procuras
Tantos brilhos e cores nos desenhos dos apetecíveis brinquedos realçam,Nas montras engalanadas de lustros e sedas de perfeito isco,Gravou com o olhar na câmara da memória para mais tarde recordar,As mãos de amor que o levava não permitiam mais do que isto,Ficou a pensar que, com tantas pessoas, se entrasse nas lojas era só pegar e sair,E ninguém ia reparar!
Com imensa alegria nos olhos admirou as cascatas e presépios rua abaixo,Engenhosa a maneira das pessoas embelezarem o altar da quadra,Deram vida à pedra, gesso e madeira, tão bem moldada e riscada,Perpetuam assim os sentires mais entranhados na alma
Entusiasmado riu para os figurantes da rua, todos eles cheios de sorrisos e acenos,Todos menos os «estátuas», como conseguem estar assim parados tanto tempo?Se calhar não são verdadeiros, são de cera ou plástico como se vê na TV!
Ofuscado por tanta beleza e alegria neste passear nocturno de Natal,Assobiou baixinho canções aprendidas na rua
e entoou em cantar trinado
«O natal não foi ontem nem é hoje nem amanhã, o natal é sempre na alegria do viver!»E puxando os braços dos pais, disse quase inaudível
- Obrigado por tanto me darem a conhecer!...Levado pela diabrura do momento largou as mãos de amor,Em ziguezagues pelo meio da multidão ousou puxar um xaile vermelho de natal,Olhou-o rosto espantado de Senhora idosa Que se passa lindo rapaz?- Desculpe, pensei que fosse o pai natal
os olhares de ambos, brilhantes, tocaram-se!- Não sou o pai mas posso ser a mãe natal se quiseres
nesta saca tenho brinquedos, Escolhe o que mais gostares
o rapazinho escolheu, era um barco reluzente de ouro tal,Que deslumbrado e em forma de agradecimento chamou-lhe estrela de olhos do mar!
Carlos Reis(Imagem: Web)