Era de uma brancura quase transparente aquele corpo de mulher jovem que brincava nas margens da ribeira, no fundo da ravina cavada pelas águas de estações mais severas. Hoje só corria um fio de água, e ela brincava em saltitos de pedra para pedra no seu jogo inventado de prazer em pés descalços
ágil como gazela não falhava pedra nenhuma, e ria-se bem alto levantando os braços como se abraçasse o ar companheiro na partilha do jogo e do gozo proporcionado.Os ecos dos risos e cantares espalhavam-se pelo vazio nos altos montes em redor, cascatas de rochas vestidas de verdes e castanhos e azuis vários, de braço dado
podiam-se ouvir a bailar e cantar pela cordilheira fora embrenhadas nos impulsos dos sons dados pela linda voz da ave canora. Cantos felizes estes que me chegou e inebriou os sentidos quando a olhei
quando a olhei e me apaixonei mal a vi do cimo do monte, onde respirava o ar revigorante que me enlouquece o sangue, e contemplava a panorâmica à minha volta
Tinha vestido uma espécie de camisa de alças que mal lhe chegava às coxas.Suspeitei ser alvo de alucinações das alturas, mas não
com os braços abertos acenava-me
os meus olhos não queriam acreditar, mas as entranhas sim, acreditaram
Desci
desci e não sei como
fui levado pelas asas hipnóticas da paixão, da inebriação, da alucinação, não sei
- Eu sabia que estavas aqui, disse ela!- Sabias como? Se é a primeira vez que passo por aqui, e estava lá em cima!?- Porque ando sempre por aqui
este fundo, esta ravina, este fio de água é Meu
e conheço todos os pulsares destes montes, destas águas e destas pedras
e hoje senti o teu pulsar!...- Diferente como sempre foste
e ao mesmo tempo igual ao meu sentir, ansioso e livre
tal como as aves
percebi-te
- Vem, vou mostrar-te o meu ninho
abertura enorme nas rochas, em que a luz ténue eram reflexos coloridos vindos dos cabelos de gelo suspensos no tecto das rochas , aqui passo os dias, cantando e bailando
numa espécie de prece e louvor pedindo que chegasses
eu sabia que virias um dia! Tonto, e sem saber o que se passava, deixei-me levar pela mão daquela mulher linda, quase translúcida, erótica e maravilhosa
que cheirava tão bem, emanava néctares de mel, odores de plantas e terra como nunca tinha sentido
balbuciei que
era a primeira vez que ali passava
- Eu sei, eu sei
anda comigo
Sentei-me e encostei-me a uma pedra morna sobre uma estepe de terra quente
coisa esquisita para o lugar
pensei eu numa letargia bêbeda sem reacção
Despiu-se
despiu a única peça de roupa que tinha no corpo, e ver aquela mulher nua
aquele corpo moldado por olhos e mãos de génio, fulminaram-me e exaltaram-se-me todos os sentidos, e o sangue inflamou-se e muito de mim perdia o controlo
baixando-se, quase rastejando, começou a despir-me numa lentidão desesperante e ao mesmo tempo extasiante
beijou-me e lambeu-me o corpo de cima a baixo
e navegando pelo meu corpo nu, aquela mulher de mil dedos, fez-me mergulhar nas ondas dos céus e mares nas suas mais deliciosas ondulações
nadei e fui percorrido em todo o meu ser por imenso oceano de voluptuosidades
foram pactos e súplicas de desejos e emoções que se fundiram
perdi o discernimento
e entreguei-me por completo àquele ritual de amor... fui sabor, fui saboreado, fui carne que deu prazer à carne
Quando despertei da amnésia e do transe na nudez em todo eu
de olhos esbugalhados abençoei o espectro do paraíso que me envolveu
e olhei para o tecto das pedras
Onde estava escrito, em pétalas de flores
Agora que provaste o meu fruto
Nunca mais me esquecerás!!!Carlos Reis(Imagem:Web)