Terça-feira, 23 de Junho de 2009
Reescrevendo Sinais

A sensação que tenho alma (quando retorno de breves ausências) e olho o Rio que me viu nascer na mui sempre majestade do seu andar, é desfrutar da alegria da seiva que alimenta as crianças na redescoberta do brinquedo.
É o lume do sangue que se empolga em mim no deslizar dos sentires tocados, nas cores que se desfazem e recriam-se nos jogos ondulados até ao mar… É pegar nos pincéis da mente e, na tela do horizonte, reinventar novas visões.
Alargar as margens pelas encostas do céu já na palidez da quase noite que desboto-a, e refazer os braços dos brilhos do sol, como espadas de fogo desbravando caminhos que nos tentam flamejantes a caminhar para lá dos mares… Montar jangadas e barcos de velas altas e navegar em novas epopeias do pensar. Nem o desconhecido, nem os fantasmas crucificados pelos tempos me podem parar.
Ferve-me o sangue e nos riscos escritos solto o espírito aventureiro e sem remissões lá vou eu no meu livre passear até onde a infinidade do imaginário me deixar pintar.
Soltas as amarras no cais onde o cheiro da água me inebria e os odores do pescado nos suores dos pescadores ainda encadeados, lanço grito de socorro às estrelas que me hão-de guiar cego sem planos , até onde ressoar os ecos do bramido do consolo da euforia.
Olho à minha volta e na azáfama de brilhos no casario que parece gritar de tanto aperto, vislumbro silhueta feminina de olhos de mel que me envolve e paralisia.
E o diabo de um manto de lembranças cobre-me de imagens que não queria… recordo… vi-te fugaz no outro lado da rua e lembrei-me da tua sombra naquela madrugada escaldante de palpitações como nunca sentira. Estonteantes em mim que de louco me pensara. Divinas no palco do teu corpo que intensamente me enrolara submisso, em preces de nós, nas volúpias que provara.
Hoje, se fosse hoje, apontar-te-ia directamente a minha arma dos afectos ao peito, e exigir-te-ia rendição incondicional com o meu olhar pedinte de paixão e jamais, juro… jamais bela criatura da terra me fugirias!!!
Carlos Reis
Terça-feira, 2 de Junho de 2009
Entediado

Um dia destes piro-me daqui!!!Quando me encher do reboliço das cidades e do martelar sistemático dos ruídos repetidos nas frenéticas correrias diárias, se puder, gostaria de juntar algumas trouxas e partir a grande velocidade.Nem sei bem o que levaria e para onde iria. Para longe sei que sim e para sítio isolado. A primeira coisa que destruiria seriam os relógios, cada vez detesto mais os relógios, tenho sempre a sensação que não passam de fantasmas espiões malévolos.Sei que levaria alguns livros, a minha viola, e uns quantos discos de música.Como me é impensável ir para lugar isolado sozinho, a longo tempo, teria de piscar o olho a alguma companheira
uma sereia, uma golfinha, uma girafa, sei lá
desde que seja bonita não me importo com o aspecto
se os meus olhos gostarem logo será linda para mim! No mar, em terra, ou mesmo no ar em algum satélite acoplar-me-ia e montaria aí a tenda
não é muito aconselhável mas é uma hipótese radical.Há a lua minha namorada eterna, talvez pegando boleia de algum foguetão vá lá parar sem me machucar muito.A lua que desde novito sempre exerceu em mim um fascínio deslumbrante
quantas vezes me parece que esticando os braços a podia tocar e sentir o pulsar do seu corpo duro de luz pérola de excelsa atracção
ou de noites de luar luminoso em que os meus olhos passeiam-se por ela a seu belo prazer como se a calcorreasse por caminhos já muito conhecidos de mim.É um encanto O imaginar andar lá em cima e contemplar tudo à volta
as estrelas mais perto e brilhantes em bailares disformes e reluzentes, a bela Terra nos seus inúmeros véus atmosféricos de soberbos azuis estendidos, as auroras-boreais brincando em baloiços de cores etéreas indefinidas, pedaços do horizonte aparentemente vazio e escuro caminhos para explorar
e como se sabe hoje há gelo por lá, ou seja, até podia fazer esqui para meu deleite!Talvez opte pela montanha maciça e alta, olhar para o mundo cá em baixo e arredores e sentir-me alto, muito alto e senhor da minha conduta sem interferências de terceiros
onde haja um lago enorme de águas doces e cristalinas (a minha piscina particular) margeado de areia branca e fina
relva viçosa e plantas aromáticas multicoloridas para deambular em passeios de lazer e reflexões, sozinho, ou com a companheira
livres sem roupas
idílico lugar para viver e sonhar até que a carne definheMas a minha preferência iria para a procura de uma ilha deserta e perdida nas imensidões dos oceanos
adoro estar envolto pela liberdade dos espaços abertos sem limites, pelo céu polvilhado de cores e brilhos no sublime cantar esvoaçante das aves, pelo mar que não acaba e sempre fecundo em experiências novas e inimagináveis, pelos verdes selvagens das florestas e animais que não tenham mau feitio, e se for virgem é o ideal
mas isto da virgindade nos dias de hoje é muito complicado
é um achado raro encontrar algo ou alguém que já não tenha sido provado!Mas como não sou muito esquisito uma ilha quase virgem chegar-me-ia muito bem!E é aqui que entro em conflito comigo próprio. Debato-me frequentemente com estes dilemas
pergunto-me (é uma vozita na cabeçola) se estarei realmente preparado para avaliar os inconvenientes e seduções do viver nas grandes cidades., e sinceramente, não sei!A vida está cheia de paradoxos
um dos que mais cisma me faz é saber que com o andar do tempo na aprendizagem, no conhecimento, na experiência; vamos descobrindo sempre mais portas e caminhos para explorar quanto maior consciência e saber temos das coisas que conhecemos, e em paralelo, sabemos que o nosso tempo físico é finito
e isto irrita-me profundamente
quanto mais sabemos e que muito mais há para descobrir o tempo foge-nos
Deus aqui brincou, foi muito mauzinho para connosco! Já provei e saboreei de tantas verdades e certezas e ilusões e falsidades que não lhes distingo as fronteiras, creio que existem todas em plenitude, aliás como outras percepções e sensações e saberes, em simultâneo - mas em níveis diferentes no espaço do viver - entranham-se e complementam-se nos labirínticos círculos da vida.E eis-me aqui a jogar aos dados em dilemas paradoxais... na procura de um sítio para me mandar!!!Carlos Reis(Imagem: Web)