Nos concertos musicais, onde o som e o convívio se tornam o alimento da alma, quase poderia dizer que até a respiração se dispensava, se tal fosse possível!
Aos poucos a arena já cheia de ruídos e múltiplas cores vai-se compondo com a maltinha que chega em grupos e, em entusiasmos de versos cantados, bem patentes no bambolear dos corpos sedentos dos sons esperados, espalham-se como átomos vivos construindo castelos.
E o tecto do céu fervilhando de focos brilhantes e dançantes empresta ao espaço o cenário surreal destes momentos únicos… o misticismo está lançado no templo abrangente que contagia os figurantes em constantes movimentos desarticulados… é um autêntico formigueiro no ir e vir sem rumo.
Os acordes começam em estonteantes decibéis e a desordem dos corpos acontece em eufóricos gritos e danças de meneios, em milhentos recortes, desafiando gargantas em coros unificados pelos longos braços das ondas dos sons.
Há ondulações de calor que se agitam e erguem na atmosfera livre e alegre em festejos sem regras e frenéticos saltos e gritos pululam exaltando soberbas em desafios da gravidade.
Há transpirações abundantes em mãos e rostos que se tocam e tacteiam a carne em mobilidades despudoradas na fala cósmica das vontades de paixões.
Há os risos e os choros, frémitos e arrepios, na bebedeira colectiva de mergulhos sem receios na envolvência da música embaladora que desprende e solta a sã loucura do espírito nos passeios do éter.
Há cumplicidades partilhadas em olhos mais reluzentes que as estrelas, nos beijos dados e roubados em juras e promessas do instante, gravados na pedra do chão que parece flutuar… só o ar equilibra e ampara estes corpos, estes seres encantados.
Há o som de fôlego ininterrupto que continua a enfeitiçar as vozes que lançam tonalidades de pautas sem custos, pelas correntezas do eco até ao mar… e o prazer nos suores que brotam sem parar é esfusiante no gostar de dançar assim.
Há o cansaço que não estranha arremessos de energia tal que erige fulgores de adrenalina em turbilhões desmesurados, despertando contínuos carrosséis, no espírito rebelde de cada um em genuínas confissões de alegria que gritam exaltantes nas entranhas.
Há o império dos sentidos que a música dá em frenéticos rejúbilos no sangue prestes a explodir na efervescência dos corpos, da carne, que em deleite não precisam de batutas para decifrar a eterna linguagem musical!
(E sabem que mais? Ver um bom concerto Rock continua a ser bastante entusiasmante e uma «batalha» e tanto! O gozo do que é bom é dar e receber, quase até à exaustão, caramba!!!).
Carlos Reis