Deixando para trás a guerra do dia, vencido nuns e ganhador noutros, entrego-me ao deleite renovador do fim da tarde no leito do mar e céu, sensações refrescantes das mãos divinas da água e ar inebriantes me invadem, são consolos dóceis e amáveis que me massajam o corpo dorido e cansado, e o espírito truculento que me anima aplaude em todos os poros que respiram em mim.
A névoa da repetição bolorenta dos dias recalcados desprende-se e até ganha asas nos dorsos das ondas sempre disponíveis. e a alegria e prazer do vento do norte que nem sempre é rebelde, sacode-me.
Incentivando-me para o ressumbrar das ondas crispadas em tontas tentações, manifestações a que me submeto de belo agrado de esgares olhares, aos corpos femininos quase só vestidos pela pele do corpo que na montra do horizonte se passeiam provocadores, esbeltos, em desenhos deslumbrantes.
E o alento da alma anima-se nos frenesins do sangue vampiresco das coisas belas. De mergulho em mergulho faço amor com o mar… não é carnal, mas tão intenso e cúmplice como se o fosse… é entrega livre, dádiva dos sentidos, prazeres sem regras.
É beber o hálito de êxtases que o gotejar dos suores provocam nos toques arrepiantes que a água dá quando se embrenha em todos os pedaços do corpo… Saboroso contentamento este quando me despeço das ondas entusiásticas e, lento, calco a areia ainda cálida que se abraça aos pés nus e molhados… paixão… Outra nobre forma de paixão!
Deitado, há nos meus olhos sabores, satisfação, rejúbilos de alegria infinitos… e no descanso dos azuis dos céus que me cobrem as transparências das cores são olhares angélicos que embalam este meu dormente estar.
Aos poucos vai escurecendo depois do último olhar do sol e não me apetece abalar, estou em recreio da mente, num meigo saboreio do mar namorando a lua que aparece!
Carlos Reis