Solta-se a mente e solta-se o espírito no corpo da noite que começa.
Vestida de brilhos e cores espalhadas que prende os olhares descuidados, tece atraentes
artimanhas em jogos de sombras e luz que fazem os passos deambular sem pressas… tudo é compasso calmo sem receio dos riscos do tempo limitado.
Os encontros dão-se, os engates fazem-se, as conquistas idolatram-se em qualquer canto… os espaços são palcos livres para os seres em liberdade os moldarem com a sua presença em esquemas de escolhas, planeados ou não, de vontades e quereres… nos sons, em toques, em olhares, nos silêncios, em danças de alma efusiva sempre adepta a descobertas do momento.
A candura do céu vivo de olhares brilhantes, como manto enorme de belo aconchego, inspira-me e envolve-me… recria vibrações no ar e nas entranhas como se algo de mim se desprendesse… como se as mãos frescas da noite me remexessem por dentro à procura de pedaços para idealizarem o invisível do meu olhar indefinido pelas margens da água, para além do mar imenso e sedutor.
E a mente mergulha em divagações vertiginosas – pensamentos e reflexões do cérebro cósmico em mim… afinidades dos seres vivos e pensantes, unos na matéria criativa e evolutiva, que alimenta o fulgor de quaisquer formas que pulsam e vivem independentemente do seu tamanho.
Olho as ondas do mar que brincam – no vir e ir alegre – no corpo do areal que se delicia no balancé constante, como crianças se abraçando… é encanto sim este ondular conivente e partilhado… são companheirismos de datas longínquas que nunca se cansam destes entusiasmos familiares, que não dispensam, para deleite das suas géneses.
Têm em si a massa microscópica das partículas mais elementares da seiva subatómica que, juntas em compromissos livres, construíram e desenharam todos os paraísos que conhecemos incluindo nós, o complexo e sensível humano.
É espantoso o poder destas minúsculas forças, quase invisíveis, partículas cheias de energia inesgotável que se estendem por tudo quanto é sítio… a elas se deve também o abismal plano, muito bem urdido, do misterioso e famoso e grandioso teatro de todo o Universo - O Cosmos de muitos Universos.
E no Épico desta desmesurada teia de feitos de origem desconhecida está algo que é tão belo e deslumbrante e misterioso – que não se pode medir nem quantificar - aquilo a que chamamos Amor… A Essência mais pura da Vida… tenha as formas que tiver em toda a sua plenitude!
O esplendor do Amor - em toda a sua diversidade de ramos infinitos e celestiais e humanos… estende-se por todo o Cosmos que respira e pulsa de vida!
E a emoção no meu peito é tanta, enquanto reflicto nesta visão que me é dada, que respiro golfadas de ar que se me entranham, quase sufocando a consciência deste sentir… deste perceber das minhas origens!
Na noite, também ela com o seu véu de mistério, olho o mar no seu poderio rasgando o ar vivo no céu pleno de vida da mesma matéria que me alimenta… e em tudo; como o pó dos átomos e moléculas, que inflama e ateia o fogo do meu sangue, nascem e crescem sementes viris e prenhes que sustentam toda a orgânica da existência.
Sim, há imensa eternidade em nós, dado pelos genes ancestrais e virgens que nos originaram, e nós, simples elos das correntes da vida, seremos perpetuados pelos tempos pela descendência que criarmos.
E desta comunhão sublime brota o feto mais belo concebido no ventre mais estranho e mágico que existe - AMAR… o grão palpitante, criador e inovador, a raiz da vida, a dinâmica do Ser!
“Viestes do pó (partículas de energia) e do pó vingareis (átomos criadores de vida)”
Carlos Reis