Ficaria aqui pela eternidade sem me cansar olhando teu rosto mestiço-róseo ciganita.
Teus cabelos longos e negros sob a chuva impiedosa parecem crina de égua rebelde, mas confiante nos segredos que sorve da água.
Os teus olhos verdes, belos como os lagos dos contos de feitiço, arrepiam-me (como se pode criar tanta beleza em dois pedacitos de carne e sangue?) - Olhas o horizonte do mar revoltoso como se lhe lesses o pensamento.
E soltas murmúrios vagos:- Fúrias de vontades adiadas, quereres por atingir, desejos para acontecer... E o que me chega não consigo decifrar, ajuda-me olhando-me nos olhos.
Gostaria tanto de saber em que pensas, o que sentes neste momento quase parado?
O teu corpo retrata-te na feminilidade altiva cheia de deslumbres nativos, recortes de emoções que a sombra desenhada na areia molhada espelha brilhos ambíguos de ansiedade e de serenidade... serenidade inquieta parece-me!
Parece que usas a bondade piedosa da raiva para expiar a dor. Talvez dor de amante por tanto dar e tão pouco onde se embrulhar.
O que te incomoda tanto a alma Ser lindo? Contra quem lutas?!...Tenho um diamante feminino moreno à minha frente, só para mim, e provei-o descaradamente com o olhar todos os pedacinhos do corpo e da alma, nos instantes longos que o tempo me deu.
E os instantes tantas vezes são infinitamente compridos no prazer e no gostar que flui flui flui na alegria intensa no saborear, no intangível!
E lembrei-me de um sonho (penso que sonhei). Vislumbrei o símbolo da feminilidade... No mar dos mares num oceano sumptuoso algures no universo da mente humana.
Onde no meio de ondas febris de cores se erigia, no pico da alvura da espuma branca - Um Braço Imenso Genialmente Esculpido e Moldado com a Mão Levemente Inclinada para a Frente... como em repouso... meditando... ou orando!!!
Símbolo da feminilidade... da fertilidade... só para mim... tal como tive nos olhos a sublimidade do latejar do sangue da ciganita!
Carlos Reis