É a febre teimosa e frenética que me faz deambular solto pelos cheiros da terra e da água, do fogo e do ar.
São os olhos das aves que me elevam no perscrutar as altas montanhas que desafiam as nuvens maciças em picos tamanhos que brincam com as estrelas.
São as escarpas de vales profundos que criam lagos de coloridos mágicos sem nome, que me entusiasmam o passear sem limites… e os jardins das planícies nas encostas sobrepostas são berços para descansar…
É o encanto do deslizar dos rios e a soberba dos mares, ora calmos ora abruptos, que nos seus desafios de correntezas constantes empolgam-me as entranhas, e tudo isto é revolta e docilidade na beleza e dureza que no aparente caos demonstra a sublimação do suave das mãos da paz que criámos, nos seus contrastes apaziguadores.
São as pessoas e animais na demanda diária, entre quedas doridas e gritos de altivez, que não esmorecem nas lutas e batalhas de sangue e lágrimas e alegria esfusiante, nos cânticos de vitórias gratas pelo viver, pelo sobreviver em êxtase e euforia… que iluminam o brilho dos meus olhos no contínuo espanto de aprender algo todos os dias.
O fogo do sol, denso e sumptuoso no calor e luz sem igual, humilde e arrogante, atiça a chama em plenitude em cada pedacinho da existência em mim, em nós… desencadeia o fervor do sangue, das vontades e desejos… é um universo de eleição que rejuvenesce os fulgores mais adormecidos e atrevidos.
Hoje não te roubo ao céu Lua… vou ter contigo e deitar-me no conforto branco quente do teu leito… sonhar e em sonhos pedir-te que me contes mais dos teus segredos ancestrais… fala-me dos delírios e fascínios que já viste e provaste dos homens.
Não me chamem… deixem-me ir assim em asas de luz trespassando o ar voando livre e desprendido.
Parte de mim deixa o corpo e estende-se na fluidez dos átomos que sustentam o esvoaçar feliz.
Se pudesse esvair-me em alguma coisa diluir-me-ia em sons – sons do respirar inquieto e profundo dos sonhos… nos sons de magia dos risos… nos sons dos beijos em abraços apertados e demorados… em sons do pensar no pranto de continuar a descobrir coisas… em sons sibilantes e encantatórios que enchem as profundezas dos ecos em mim, como se tivesse mil vidas para desperdiçar.
Desafio-me até na raiva da vingança do tempo quando se lembra de me avisar que só tenho uma vida material para cumprir.
Que importa?! A liberdade dá-me a inventiva de no pecado e virtude moldar correntes desenfreadas em que construo mundos e vivências para explorar.
Sou a osmose que separa e une a carne ao espírito na alma vagabunda que me anima.
Carlos Reis