Terça-feira, 1 de Fevereiro de 2005
Poesia
Não tenhas nada nas mãos
nem uma memória na alma,
Que quando te puserem
nas mãos o óbolo último,
Ao abrirem-te as mãos
nada te cairá.
Que trono te querem dar
que Átropos to não tire?
Que louros que não fanem
nos arbítrios de Minos?
Que horas que te não tornem
da estatura da sombra,
Que serás quando fores
na noite e ao fim da estrada.
Colhe as flores mas larga-as,
das mãos mal as olhaste.
Senta-te ao Sol. Abdica
e sê Rei de ti próprio.
Ricardo Reis
É sempre uma boa aventura passear contigo
meu caro Pessoa,
ver as coisas pelos teus olhos argutos e tristes,
singularizar os detalhes, aparentemente, mais banais,
subir ao teu altar-mor de pensar,
ouvir-te em retóricas de egos e paixões,
onde as emoções ganham fulgores em mim desconhecidas.
Penso que penso como tu... ai a minha ousadia...
Não leves a mal companheiro porque é fácil sonhar,
contigo ao meu lado sempre que vamos passear!
Carlos Reis