Lembro-me dos pincéis, das tintas e telas,Imagens belas com sóis, jardins, mares e sombras de montanhas,No sótão perdido lá em cima com pó e teias de aranhas,Onde devaneio pelos rios da música e pinturas,Imagino, imagino-me a inovar coisas já tão batidas,- e nada me sai de diferente, que veja nelas!Vou pincelando à toa, sem pensar,E são abelhas, abelhas com forma de mulher que me sai;Azuis, vermelhas, verdes e disformes,São pedaços de gente que conheço, junto-os, ver no que vai dar:E dá-me pernas que colo aos ombros,Mãos que junto às ancas,Rosto (belo e luzidio), sombreado de castanhos e laranja,Como o teu!... Naqueles tempos de desassombros
Lembras-te? Éramos abelhas em voos livres,Bichinhos perdidos pelos pólens,Nada nos barrava os limites,Éramos esperança, sonhos, caminhos sem fim,Godés, cores, figuras em papel desenhadas,Traços unidos, desalinhados, pinceladas,Tudo junto
fundos de amantes em mel embrulhados!...Carlos Reis