CANTOSTalvez já não te lembres, triste Helena,Dos passeios que dávamos sozinhos,À tardinha, naquela terra amena,No tempo da colheita dos bons vinhos.Talvez já não te lembres, pesarosa,Da casinha caiada em que morámos,Nem do adro da ermida silenciosa,Onde nós tantas vezes conversámos.Talvez já te esquecesses, ó bonina,Que viveste só no campo comigo,Que te osculei a boca purpurina,E que fui o teu sol e teu abrigo.Que fugiste comigo da Babel,Mulher como não há nem na Circássia,Que bebemos, nós dois, do mesmo fel,E regámos com prantos uma acácia.Talvez já te não lembres com desgostoDaquelas brancas noites de mistério,Em que a Lua sorria no teu rostoE nas lages campais do cemitério.Talvez já se apagassem as miragens Do tempo em que eu vivia nos teus seios,Quando as aves cantando entre as ramagensO teu nome diziam aos gorjeios. (continua)Cesário Verde