A vida de tão bela que é na sua genuinidade, por vezes é trapaceira... em muito da ingenuidade da génese humana nem tudo vai sempre correr bem - nunca esperamos rasteiras atrozes e dolorosas que tantas vezes acontecem, inesperadamente, dos elementos da nossa própria natureza e da que nos rodeia.
Na nossa complexidade somos tão frágeis na verdade; e esquecemo-nos que vivemos numa Terra que tem muitas outras formas de vida. Que no seu revolver existencial cria-nos armadilhas fatais e arrasadoras, depois é tarde de mais para voltarmos para trás.
Pairam no meu horizonte vagas de dor em ombros sombrios pesados de quem se dobra na procura de vida. De mãos vazias, unhas na areia, desbravam esperanças em vias de pesadelo resgatando vidas a cru.
Varrem o inferno com vontades febris e tenazes até onde podem chegar, esforços quase inglórios estes, bem visíveis nos abundantes choros e suores que pingam no chão de sangue e gemidos de dor que se ouvem sem ninguém os poder acudir.
Dilacera-me a alma o incessante choro pedinte de uma mão para ressuscitar. Tudo é tão efémero neste mundo Meu Deus mas desaparecer assim é tão impiedoso, tão severo!
Quanto pesa uma vida? Dizei-mo!!!
Mas o que é mais bruto, em mim, confesso - que de tão revoltado e de peito lacerado pelo sofrimento, não me chega uma única lágrima aos olhos… e sem lágrimas isto dói tremendamente mais.
Sei que tenho genes de nómada e defesas imensas que suportam bem a dor… mas apetece-me tanto gritar!
Lua que és o meu berço e em ti tens os sons do meu eterno embalar,
De ti e do céu prometido deixem-me buscar o canto para descansar,
A minha viagem é contínua, é vaguear pelas células e moléculas do espírito sem cessar,
Sentir o latejar do sangue das pessoas que amo e iluminam o fogo que há neste corpo,
Efervescente na liberdade quase sem limites, que não quer ser abafado no último respirar assim.
Nasci sem acordos e sem acordos quero viver, quero o dia a dia para desfrutar, como desfruta a maçã o prazer que me dá quando a fome me satisfaz.
Prefiro deixar de jurar promessas ao futuro, e continuar parecido com o tempo passeando na minha relatividade, só ganhando forma aos olhos de quem me olha.
Quando o futuro chegar, vivendo alegre e intensamente o presente, vou agarrá-lo com todas as forças que tiver dentro de mim. O Futuro nem sei bem o que é… antes do futuro está sempre o presente, portanto, o futuro é simplesmente o amanhã do presente, logo, o que mais interessa é saborear o melhor possível o presente para que o futuro não seja algo tão incógnito e temido!
(Pensando na tragédia do Haiti)
Carlos Reis